Notas sobre movimentos sociais em rede e as recentes manifestações no Brasil
Alguns apontamentos teóricos
O
movimento social clássico, que se desenvolveu a partir do século XIX, e
prevaleceu até meados do século XX, foi o sindical. A partir da década de 60 do século passado,
surgiram movimentos que não podiam ser facilmente enquadrados na lógica
corporativa e na visão clássica da luta de classes. Analistas chamaram esses
movimentos por vários nomes: identitários,
culturais ou simplesmente novos movimentos sociais.
Embora de tipo novo, frequentemente estes novos movimentos sociais repetiam formas organizativas e repertórios de manifestação mimetizados dos movimentos clássicos. Isto é, eles tinham uma direção centralizada, tesouraria, realizavam assembleias e votações para decidir sobre suas ações, publicavam manifestos e declarações na imprensa tradicional etc.
Mais recentemente surgiram os chamados movimentos sociais em redes, ou até mesmo redes de movimentos sociais. Em parte, isto foi uma forma de contornar a fragmentação decorrente do crescimento dos tipos de movimentos sociais. O que caracteriza estes movimentos não é o uso de redes sociais. Na realidade, eles são um fenômeno anterior à disseminação das redes sociais, caracterizados pelo formato descentralizado e aglutinador. Movimentos em rede podem partir de um grupo organizado, mas, convocam a adesão praticamente indiscriminada de grupos e até mesmo indivíduos que concordam com suas propostas.
Sindicatos que divulguem suas assembleias, pautas e atos em redes sociais não se transformam em movimentos sociais em rede, pois suas decisões continuam centralizadas em assembleias com participação corporativa e suas manifestações serão controlados pelo grupo dirigente da associação.
O caráter aglutinador dos movimentos em rede tira a centralidade da assembleia. É mais provável que várias reuniões decidam o modo como vários grupos irão participar do movimento. Isto rompe com qualquer característica corporativa e cria uma certa indeterminação no próprio modo como as manifestações são conduzidas.
Movimentos em rede costumam ter pautas gerais, não corporativas e dessingularizadas, que possam aglutinar a maior quantidade possível de grupos e/ou pessoas.
O uso das redes sociais da internet, embora não caracterize os movimentos sociais em rede, ampliou imensamente o poder de alcance de sua ação, permitindo desterritorializar as manifestações que potencialmente passaram a ter alcance mundial e simultâneo; aumentar a capacidade de responder em tempo real ao surgimento de novas demandas e obstáculos; e tornando a comunicação entre lideranças e militantes quase direta. Essas novas potencialidades ampliaram o caráter descentralizado dos movimentos em rede.
Embora de tipo novo, frequentemente estes novos movimentos sociais repetiam formas organizativas e repertórios de manifestação mimetizados dos movimentos clássicos. Isto é, eles tinham uma direção centralizada, tesouraria, realizavam assembleias e votações para decidir sobre suas ações, publicavam manifestos e declarações na imprensa tradicional etc.
Mais recentemente surgiram os chamados movimentos sociais em redes, ou até mesmo redes de movimentos sociais. Em parte, isto foi uma forma de contornar a fragmentação decorrente do crescimento dos tipos de movimentos sociais. O que caracteriza estes movimentos não é o uso de redes sociais. Na realidade, eles são um fenômeno anterior à disseminação das redes sociais, caracterizados pelo formato descentralizado e aglutinador. Movimentos em rede podem partir de um grupo organizado, mas, convocam a adesão praticamente indiscriminada de grupos e até mesmo indivíduos que concordam com suas propostas.
Sindicatos que divulguem suas assembleias, pautas e atos em redes sociais não se transformam em movimentos sociais em rede, pois suas decisões continuam centralizadas em assembleias com participação corporativa e suas manifestações serão controlados pelo grupo dirigente da associação.
O caráter aglutinador dos movimentos em rede tira a centralidade da assembleia. É mais provável que várias reuniões decidam o modo como vários grupos irão participar do movimento. Isto rompe com qualquer característica corporativa e cria uma certa indeterminação no próprio modo como as manifestações são conduzidas.
Movimentos em rede costumam ter pautas gerais, não corporativas e dessingularizadas, que possam aglutinar a maior quantidade possível de grupos e/ou pessoas.
O uso das redes sociais da internet, embora não caracterize os movimentos sociais em rede, ampliou imensamente o poder de alcance de sua ação, permitindo desterritorializar as manifestações que potencialmente passaram a ter alcance mundial e simultâneo; aumentar a capacidade de responder em tempo real ao surgimento de novas demandas e obstáculos; e tornando a comunicação entre lideranças e militantes quase direta. Essas novas potencialidades ampliaram o caráter descentralizado dos movimentos em rede.
Reflexões sobre as manifestações recentes no Brasil
Não
é a primeira fez que temos no Brasil movimentos sociais em rede, o Fórum Social
Mundial, que teve algumas das suas edições no Brasil, não deixou de ser uma
tentativa de colocar em ação uma rede de movimentos sociais, com o objetivo de
congregar as mais variadas demandas, mas também extrair pautas comuns e ações
integradas.
Mais
recentemente, por ocasião da RIO + 20, Movimentos Sociais organizaram a Cúpula
dos Povos. Este evento teve uma direção formada por representantes de variados
movimentos, que organizou debates, palestras e manifestações. Mas, em grande
medida, a Cúpula se tornou uma espécie de “festival” de movimentos sociais, que
se materializou na Marcha dos Povos que encerrou o evento.
O
movimento passe livre (MPL) tem algumas características tradicionais de
organização, mas a forma como ele convocou as recentes manifestações foi
claramente inspirada em movimentos em rede. O tema da mobilidade urbana é
bastante aglutinador, dessingularizado e vem se tornando mais urgente com a
recente onda de desenvolvimento e expansão urbana. Redes Sociais foram
utilizadas não só para convocar as manifestações, mas também para pedir a
replicação das mesmas em todo o país. O movimento se tornou muito maior do que
a capacidade organizativa do MPL.
A
repressão policial, particularmente aquela sofrida pela manifestação em São
Paulo, no dia 13 de julho, ampliou a pauta do movimento, que passou a ter como
uma de suas bandeiras o próprio direito à manifestação. Ela também teve algum efeito sobre o modo
como a grande imprensa, ela mesma vítima da repressão, passou a encarar o
movimento.
Em
movimentos em rede é esperado que haja alguma rejeição a algum grupo,
particularmente se não foi ele que convocou originalmente as manifestações, e tenta
“tomar a direção”, lançando manifestos em nome de todos os participantes, ou
mesmo tentando fazer com que passeatas sigam o seu carro de som e suas
bandeiras. A rejeição à participação de
partidos e sindicatos nas manifestações a partir de 17 de junho, contudo,
extrapolou muito essa compreensível tendência.
É
urgente refletir sobre as consequências de um discurso que praticamente
criminaliza a ação parlamentar, enquadrando todos os partidos e instituições
políticas como cúmplices da corrupção.
Infelizmente, parte da própria esquerda, que hoje é vítima da rejeição
dos manifestantes desorganizados, incentivou a adesão a este discurso.
Movimentos
sociais, em geral, querem uma ampla cobertura da grande imprensa, pois ela
amplifica muito o alcance de suas ações. Por maior que seja a penetração das
redes sociais atualmente, elas ainda não podem concorrer com a grande imprensa.
Contudo, no caso específico das recentes manifestações, houve rejeição aos
profissionais desta grande imprensa que passaram a trabalhar sem identificação
clara. Isto merece uma reflexão que dificilmente a própria grande imprensa
fará.
Se o movimento já havia suplantado a capacidade
organizativa do MPL, a adesão de centenas de milhares de pessoas também fez com
que suas pautas deixassem de ser orientadas por qualquer tipo de direção, ainda
que compartilhada. Palavras de ordem
como “não à corrupção”, “não à repressão”, “melhorar a saúde” e “melhorar a educação”
são genéricas o suficiente para atrair os mais variados grupos do espectro
político, organizados ou não.
A falta de direção passou a se manifestar na
própria forma como os protestos foram conduzidos, sem um carro de som, sem
cantos reproduzidos por todos, e em alguns casos até mesmo sem um trajeto
definido.
Ficou demonstrado que a característica de levantar
pautas genéricas é, ao mesmo tempo, a força e a fraqueza dos movimentos em
rede. Força, porque é capaz de atrair centenas de milhares de pessoas
espalhadas por todos os cantos do país simultaneamente; fraqueza, porque estes
aderentes podem seguir as manifestações com suas próprias pautas e objetivos, de
uma maneira que nem sempre é possível coordenar.
Estes apontamentos são mais analíticos do que
práticos e de forma nenhuma pretendem orientar a ação do movimento. Contudo, se
os grupos de esquerda que estiveram na origem das primeiras convocações
pretendem recuperar a direção das manifestações, eles precisarão objetivar o
máximo possível as suas reivindicações e assumir um papel de protagonista,
inclusive, nos aspectos práticos das manifestações.
Sydenham Lourenço Neto
Departamento de Ciências Humanas
PPGHS-UERJ
TEMPO
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