quinta-feira, 13 de março de 2014

50 anos do Comício da Central: quem tem medo de reformas populares?


Gelsom Rozentino de Almeida
Professor Associado PPGHS/UERJ
Procientista FAPERJ/UERJ


          As distorções sociais explicitadas com o crescimento econômico do país, somadas às expectativas criadas nos movimentos populares pela ascensão ao poder de Estado do trabalhista João Goulart, tornaram a situação social extraordinariamente tensa. As esquerdas, divididas em vários setores, acreditavam que havia chegado o momento da realização das pretendidas reformas estruturais, enquanto os conservadores procuravam se unir para evitar qualquer avanço político que pusesse em causa seus interesses fundamentais. Desde seus primeiros pronunciamentos como presidente, João Goulart explicitou sua vocação conciliadora, entre os interesses do capital e do trabalho, em defesa das reformas de base, nos marcos do Estado de direito e do capitalismo.
Dentre as reformas entendidas como necessárias - reforma sindical, educacional, bancária, urbana, constitucional, eleitoral, tributária e outras - a reforma agrária foi a que mais gerou expectativas positivas e reações acaloradas. De um lado o movimento camponês, que tinha nas Ligas Camponesas de Francisco Julião sua ala mais radical. Do outro, os latifundiários, que não admitiam qualquer diálogo que envolvesse a propriedade de terras.


A necessidade de realização das Reformas de Base constituía um consenso nacional. Entretanto, a discussão pontual das reformas punha em evidência toda a extensão da fragmentação política existente. Nenhum partido político tinha uma clara definição a respeito do caráter dessas reformas, o que provocou fraturas nos partidos. O principal apoio dos defensores das reformas vinha dos sindicatos de operários urbanos, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), dos movimentos do campo (Ligas, ULTAB, MASTER) e de partidos de esquerda (PCB, AP, POLOP, PCdoB). Tal quadro, teve por consequência uma intensa politização desses movimentos extra-parlamentares, os quais passaram a desafiar a capacidade de controle político do governo e, ao mesmo tempo, levar os conservadores à conclusão de que a fraqueza do governo estava a abrir as portas para uma revolução socialista. A maior manifestação política da defesa das reformas, o Comício da Central, em 13 de março de 1964, despertou de vez as forças que as sufocariam.



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