Gelsom Rozentino de Almeida
Professor Associado PPGHS/UERJ
Procientista FAPERJ/UERJ
As distorções sociais explicitadas com o
crescimento econômico do país, somadas às expectativas criadas nos movimentos
populares pela ascensão ao poder de Estado do trabalhista João Goulart,
tornaram a situação social extraordinariamente tensa. As esquerdas, divididas
em vários setores, acreditavam que havia chegado o momento da realização das
pretendidas reformas estruturais, enquanto os conservadores procuravam se unir
para evitar qualquer avanço político que pusesse em causa seus interesses
fundamentais. Desde seus primeiros pronunciamentos como presidente, João
Goulart explicitou sua vocação conciliadora, entre os interesses do capital e
do trabalho, em defesa das reformas de base, nos marcos do Estado de direito e
do capitalismo.
Dentre
as reformas entendidas como necessárias - reforma sindical, educacional,
bancária, urbana, constitucional, eleitoral, tributária e outras - a reforma
agrária foi a que mais gerou expectativas positivas e reações acaloradas. De um
lado o movimento camponês, que tinha nas Ligas Camponesas de Francisco Julião
sua ala mais radical. Do outro, os latifundiários, que não admitiam qualquer
diálogo que envolvesse a propriedade de terras.
A
necessidade de realização das Reformas de Base constituía um consenso nacional.
Entretanto, a discussão pontual das reformas punha em evidência toda a extensão
da fragmentação política existente. Nenhum partido político tinha uma clara
definição a respeito do caráter dessas reformas, o que provocou fraturas nos
partidos. O principal apoio dos defensores das reformas vinha dos sindicatos de
operários urbanos, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), dos movimentos do
campo (Ligas, ULTAB, MASTER) e de partidos de esquerda (PCB, AP, POLOP, PCdoB).
Tal quadro, teve por consequência uma intensa politização desses movimentos
extra-parlamentares, os quais passaram a desafiar a capacidade de controle
político do governo e, ao mesmo tempo, levar os conservadores à conclusão de
que a fraqueza do governo estava a abrir as portas para uma revolução
socialista. A maior manifestação política da defesa das reformas, o Comício da
Central, em 13 de março de 1964, despertou de vez as forças que as sufocariam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário