domingo, 9 de março de 2014



UCRÂNIA: UMA NOVA GUERRA FRIA?
Gelsom Rozentino de Almeida
Professor Associado do PPGHS UERJ

            Os acontecimentos recentes e ainda em andamento na Ucrânia tem ocupado grande espaço na mídia e preocupado aqueles que tem ainda uma fresca memória da guerra fria. A crise na Ucrânia vem se arrastando a alguns anos, agravando-se desde o final de 2013 e acirrou-se com a queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em 22 de fevereiro deste ano. O parlamento russo autorizou o presidente Vladimir Putin a enviar tropas à Ucrânia para defender instalações militares e cidadãos russos naquele país, cuja parte leste tem forte identidade com Moscou. Putin chamou de “golpe de Estado” a queda de Yanukovich e admitiu usar a autorização parlamentar. No mesmo dia, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, foi à Ucrânia manifestar o apoio de Washington ao governo de transição e acenar com US$ 1 bilhão de ajuda. A União Européia, capitaneada pela Alemanha, acena com US$ 15 bilhões de empréstimos. Ambos também pressionam o FMI para um novo pacote de auxílio de mais US$ 15 bilhões (os empréstimos anteriores não foram pagos nem as condições pactuadas cumpridas).
            A Ucrânia atravessa uma grave crise política e econômica interna, composta pelas disputas intra-oligárquicas entre os grupos pró EUA e Europa e os pró Rússia, além da ascensão de movimentos direitistas e fascistas. E, pela localização estratégica, encontra-se agora no centro de uma disputa geopolítica. Antiga república integrante da URSS, a Ucrânia presenciou a ambiguidade de uma significativa população russa em seu território (cerca de 30% no leste e Criméia) e fortes laços culturais e econômicos com a Rússia, desde tempos imperiais, mas também forças autonomistas bastante fortes, desde a revolução anarquista de Nestor Makhno derrotada pelos bolcheviques, bem como simpatizantes com o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial.
            A ocupação da praça Maidán, as grandes mobilizações e violência das forças policiais, conferiram uma “áurea revolucionária” ao movimento que resultou na derrubada do presidente. Mas não há nenhuma força de esquerda significativa liderando o processo. É a oposição pro-imperialismo norte-americano e europeu, apoiado por grupos de ultra-direita, milícias de “auto-defesa”, grupos fascistas, que compõem o “novo poder”. Não se sabe ao certo a capacidade de atração da maioria da população por esses grupos. É certo que se trata de um panorama extremamente complexo e heterogênio, seja na sua composição política como interesses organizados, propostas e reivindicações. Mas é certo que são grupos de direita. Que incluem também os pró Russia.

            A disputa pela Ucrânia não é um revival da guerra fria, nem uma nova guerra fria. Mas é composta pelos elementos de um confronto diplomático, econômico (com sanções de ambos os lados) e militar. Embora a Rússia não seja mais nenhuma superpotência, entram na conta o seu ainda enorme aparato militar (desde forças convencionais a armas nucleares). E a Ucrânia é para ela um “espaço vital”. O soft power de EUA e União Européia, bem sucedido na região em diferentes “revoluções”, como na Georgia (2003), no Quirquistão (2005) e na própria Ucrânia (2004/2005), tem se mostrado insuficiente, até o presente. EUA e Europa quem a Ucrância integrando tanto o sistema europeu como a OTAN. Isso não é aceitável para o atual governo Russo. A guerra quente não está descartada.

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